Foto: Jorge Coelho Ferreira

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POEMAS DE NAMIBIANO FERREIRA

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27 de maio de 2007

ÚLTIMAS CHUVAS



Chove. É na estação das chuvas – dizem –
que acontecem as coisas.


No sopro indelével do momento
soltam-se cazumbis do coração das árvores
povoando o vento, a brisa e o tempo
atormentando a vida dos homens.


Foi na paragem de Maio que Tudo 

e Nada aconteceu e chovia... 
(Não chovia?
então chovia no limbo da Poesia).


É na estação das chuvas – dizem –
que acontecem as coisas...
e nesse dia as chuvas quase acabaram.
- Onde foi na paragem de Maio que Tudo
e Nada aconteceu? – Onde foi?!
Onde foi, quem foi, como foi?





Namibiano Ferreira

14 de maio de 2007

ASPIRACOES DE CHUVAS





















                              Tela de Mário Tendinha




As sobras Nzoji – sonhos
que hei-de beber
e Oximalanka - a Hiena –
ainda não devorou...
São águas frescas de cacimba
que guardo no moringue
terracota velho
adormecido.


É com Nzoji – sonhos
(frescura de moringue)
que hei-de desejar
Ombela – a chuva bela –
e construir o kimbo novo;
semear massangos
de folhas verdes;
fazer meus sambos
de muito gado;
alembar minhas mukayas,
riso futuro
de meu kimbo.

 Namibiano Ferreira



Nzoji – sonho
Cacimba – poço
Moringue – vasilha de cerâmica para guardar água
Kimbo – aldeia
Massango – variedade cereal (sorgo?)
Sambos – locais onde se guarda o gado, curral
Alembar – de alembamento, dote de casamento que o noivo paga ao pai da noiva.
Mukayas - mulheres

TRES POEMAS DO MAR





DE PAR EM PAR

Abertas as janelas para a Vida
tenho, de lembrança mais antiga,
as aras planas e douradas
debruadas de bilros nevados
coroando as franjas leves
da toalha sedosa e glauca
alongada ao sabor do infinito
amenizando a quentura do Deserto.




O QUE É O MAR?


Tu perguntas, e eu não sei
eu também não sei o que é o mar
(Eugénio de Andrade)


Serenidade
leve brisa discreta
traz no regaço o perfume das esmeraldas diluidas
brilhando na placidez do vento.
Crepes tremulam em suspiros leves de espuma
e perdidos entre cetins luminosos
vêm os teus lábios, pétalas rosadas,
sôfregos para me beijar.




MAR


Mar sonoro, mar sem fundo, mar sem fim
(...)
Que momentos há em que eu suponho
Seres um milagre criado só para mim



(Sophia Mello Breyner Adresen)



Brilham pétalas cândidas de rosas encrespadas
sobre o fundo marinheiro a bailar massemba
hialino de topázios e cristais.
Há o perfume das algas desfeitas no vento
e ao longe voam asas brancas
ansiosas e saudosas na distância.



Massemba - o mesmo que semba, danca angolana que esta na origem do samba brasileiro.

Namibiano Ferreira


12 de maio de 2007

OMAUHA

Pedras Negras de Pungo Andongo - Malanje.






Uma a uma -omauha-
a pedra constrói a casa.
Pedra a pedra
a casa está ligada à terra
como a alma do poeta
se liga ao Povo
sem saber exactamente
porquê?!...



Namibiano Ferreira



Omauha – pedra em língua Tchiherero (Mukubal).