Foto: Jorge Coelho Ferreira

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POEMAS DE NAMIBIANO FERREIRA

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27 de dezembro de 2014

A MINHA POESIA NO CULTURA No 72


Página 6 do número 72 de Cultura - Jornal Angolano de Artes e Letras


NAMIBE UMBILICAL

Le désert ne se raconte pas, il se vit.
Mano Dayak

1 – Ciclo Perpétuo

No Namibe, ao cairem as primeiras e pequeninas chuvas de cada ano ou, quando as manhãs de humidade, trazidas do mar pelo vento, se espalham em fino nevoeiro sobre a terra árida, o Deserto sequioso, tira dessas escassas pérolas aquíformes, a força suficiente para fazer renascer o capim sequíssimo e morto. Num súbito acto de magia, um manto pálido, de um verde desmaiado, enche de esperança os horizontes em redor.
Depois, num ciclo rápido e fugaz, que se vem repetindo desde o tempo do Génesis, o verde pálido e desmaiado, dá lugar, no final da estação quente, a um mar loiro como se fosse uma seara  a ondular trigos de semblante fino e bagos dourados de nada, a tilintarem um brilho vago e vazio. 
Em Junho, com o advento do Cacimbo, o capim deixa um restolho seco, muito seco e negro, como se fosse palha queimada. Vida morta que há-de regressar ao pálido verde quando, novamente, cairem as primeiras e pequeninas chuvas ou, quando as humidades do mar cegarem de névoa a aridez das manhãs, envolvendo o Namibe num forte abraço de místico e eterno retorno como se a serpente mordesse a sua própria cauda.


Namibiano Ferreira

26 de dezembro de 2014

TEMPO DAS CHUVAS


Antes que venham as primeiras chuvas

acender

Amarelas flores entre os rochedos

E o céu se torne móvel de compridos pássaros

E todo o chão se cubra do verde novo

Do capim




Saberás pelo vento que chegaste ao fim. 


José Eduardo Agualusa 

23 de dezembro de 2014

FELIZ NATAL PARA TODOS




NATAL



Há anos, na noite de Natal, numa cubata do mato angolense, uma família de tribo indígena, em cujos corações já soara a mensagem divina através da palavra portuguesa, celebrava, na sua ingenuidade pitoresca, o nascimento do Filho de Deus, à maneira da civilização cristã.

Havia uma nota originalíssima no figurativo quadro clássico. Ao canto da cubata estava construído um pequeno presépio feito de adobe, com capim e folhas de palmeira, com os reis magos e pastorinhos e, deitado em esteira de mabu, o monandengue Jesus, boneco feito de pau, pintado de preto.

Eis o milagre do amor no Natal de Cristo.
Há vinte séculos Jesus Cristo nasceu, numa manjedoura, em Belém de Judeia. Mas todos os anos através dos tempos, neste dia, ele nasce nos palácios sumptuosos e choupanas da Ásia, nas vivendas ricas e casinhotas da Europa, nos arranha-céus colossais e bairros pobres das Américas, nas cidades e vilas da África, sob a música dos sinos e das harpas, e já nas sanzalas típicas da África Negra, ao som dos quissanges e marimbas.
Na sua materialidade exótica, aquele quadro da cubata revelava a verdade eterna do espírito, não ofendida nem falseada: Jesus nasce no coração de cada ser humano, em todos os povos e raças, porque Ele é, milagrosamente, o Deus-Menino de toda a gente.



Geraldo Bessa Víctor

LATÊNCIA



Choram as janelas o crepitar das chuvas

e eu perco-me sozinho no latejar solidão

das têmporas esquecidas do tempo.

Rodopio pensamentos na espiral

ansiada no calcanhar dos minutos

que hão-de trazer Tchuvombera

e nesta infecciosa latência, vaga e vazia

de esperanças, reganho minhas forças

titânicas-telúricas nas curvas doces do teu corpo

fortaleza, cais bonança, reserva de todas as líricas

escondidas e ainda mal adivinhadas.


Namibiano Ferreira

O HOMEM QUE VINHA AO ENTARDECER




Falava com devagar, ajeitando as
palavras. Falava com cuidado,
houvesse lume entre as palavras.

Chegava ao entardecer, os sapatos
cheios de terra vermelha e do perfume
   dos matos.

Cumpria rigorosamente os rituais.

Batia primeiro as palmas (junto
       ao peito)
Depois falava.
Dos bois, das lavras, das coisas
simples do seu dia-a-dia. E todavia
era tal o mistério das tardes quando
assim falava
   que doía. 


José Eduardo Agualusa

22 de dezembro de 2014

CANTO PARA ANGOLA

 
 tela de Neves e Sousa


Hei-de compor um dia
um canto sem lirismo
nem tristeza
digno de ti, ó minha terra.
Hei-de compor um canto
livre e sem regras
que de boca em boca vai partir
nos lábios de velhos e meninos.
Será o canto do pescador
com todos os sons do mar
com os gemidos do contratado
nas roças de São Tomé.
Será o canto de todos os dramas
do algodão do Lagos & Irmão
o das tragédias nas minas
da kitota e da Diamang.
Será o canto do povo
o canto do lavrador
e do estudante
do poeta
do operário
e do guerrilheiro
falando de toda Angola

e seus filhos generosos.


Jofre Rocha 

20 de dezembro de 2014

POEMA DE A PEREGRINAÇÃO DO SÈKÚLU

Santuário Nossa Sra. da Muxima - Angola



Fiz um terço no cicio de vozes,
rezei a alma rolando, em cada conta,
um pecado marcado, cantado,
riscado de premonições nefastas
e diabinhos moleques hiperactivos,
 malcriados, safados.

Ximbiquei o dongo, subi o Kwanza
visitei a Santa, lamuriando ajudas
e auxílios: Mama Muxima, Mama Muximê
aiuê, aiuê, auiê... ituxi, ituxiuê!

E a Santa virou costas,
muxoxou,  revirou os olhos
e, mudando de lugar,
pegou o Menino na cacunda
e foi subindo no Céu a sorrir,
só a cantar uma cantiga de ninar...

Pecador regressei, à toa,
desci o Kwanza e cego de pecados
viajo perdido, ainda,
nas águas amargas de Kalunga
fazendo terços, rezando a alma:
mil contas de pecados entre meus dedos

rolando em minúsculos pedaços...


Namibiano Ferreira

Poema publicado no Cultura _ Jornal Angolano de Artes e Letras de 26/05/2014
http://jornalcultura.sapo.ao/letras/dois-poemas-da-peregrinacao-do-sekulu 

19 de dezembro de 2014

MAKGOLOKGOLO - SIHUNYIWE THOKOZILE

Relacionado com a postagem anterior aqui fica a outra música do mesmo disco (lado B).
Autor: S. Nkabinde



18 de dezembro de 2014

MAKGOLOKGOLO - MAJUBA (BATWANYANA)

Esta música foi popularíssima em Angola em 1973 e 1974, nao é angolana, embora tivesse sido gravada em Angola. A sua origem é sul africana. Adoro este ritmo!
Autores da música sao R. Bopape e M. Naukwane.




POEMA DE JOFRE ROCHA



    VEM, DESESPERO


Vem, desespero
mata em minhas veias o brilho desta lua
a enfeitar com simulacros de prata
a miséria de vidas sem destino.

vem, desespero
gela nas bocas o murmúrio de conformismo
esse ópio de vontades
a sabotar a flor única de esperança
na planície dos homens de rastos.

vem, oh! vem desespero,
e cria nos homens o ímpeto dos tornados.


Jofre Rocha




15 de dezembro de 2014

NOITES DE LUAR NO MORRO DA MAIANGA



Noites de luar no Morro da Maianga
Anda no ar uma canção de roda:
"Banana podre não tem fortuna
Fru-tá-tá, fru-tá-tá..."
Moças namorando nos quintais de madeira
Velhas falando conversa antigas
Sentadas na esteira
Homens embebedando-se nas tabernas
E os emigrados das ilhas...
- Os emigrados das ilhas
Com o sal do mar nos cabelos
Os emigrados das ilhas
Que falam de bruxedos e sereias
E tocam violão
E puxam faca nas brigas...
Ó ingenuidade das canções infantis
Ó namoros de moças sem cuidado
Ó histórias de velhas
Ó mistérios dos homens
Vida!:
Proletários esquecendo-se nas tascas
Emigrantes que puxam faca nas brigas
E os sons do violão
E os cânticos da Missão
Os homens
Os homens
As tragédias dos homens!




 Mário António (1934 - 1989) 

A POPULACAO DE ANGOLA: 24 MILHOES

RETIRADO DO BLOGUE:  http://cangue.blogspot.co.uk/2014/10/populacao-de-angola-estimada-em-24.html










10 de dezembro de 2014

A RAINHA GINGA - LIVRO DE AGUALUSA

 

Em declarações à agência Lusa, José Eduardo Agualusa disse que este seu novo livro, que "queria escrever há muito tempo", responde a "uma inquietação" dos angolanos, que querem conhecer o seu passado, numa nova perspetiva.

Agualusa explicou que "levou tempo" a escrevê-lo, pois teve de se "informar mais" e precisou de se "colocar na cabeça da Ginga, no seu universo", salientando que "tudo aconteceu numa época muito recuada".

O narrador do livro é um padre, Francisco José de Santa Cruz, nascido em Pernambuco, nomeado em 1620 secretário de Ginga, rainha do Dongo e da Matambam, no norte da atual Angola.

"Na realidade ela teve secretários, quase todos padres, pois era de uma classe culta, que sabia ler e escrever, mas esta [a personagem do padre] é uma personagem inventada, eu precisava de alguém que fosse um tradutor de mundos, que é também do que fala este livro", disse Agualusa.

Na sessão de apresentação, às 21:30, do romance histórico "A rainha Ginga. E de como os africanos inventaram o mundo", participam também Kalaf Ângelo, que irá ler excertos da obra, acompanhado pelo contrabaixista Ricardo Cruz.

O que levou José Eduardo Agualusa "a escrever este livro foi mostrar como os africanos foram parte ativa - e de forma bem mais vigorosa - daquilo que se estuda nos compêndios europeus, neste processo de construção de nações, de redesenhar o mapa do mundo".

Texto retirado de Jornal Ionline

CAMPANHA INTERNACIONAL POR ASIA BIBI

Um copo de água por Asia Bibi: junte-se a esta iniciativa 
solidária, hoje às 17h na livraria da Alêtheia

2 de dezembro de 2014

PEDIDO: VOTEM EM "MIND THE CORK", POR FAVOR!

Vinha pedir aos visitantes e leitores de Ondjira Sul para votarem, seguindo o link: 
http://confessionsofadesigngeek.com/coadgbursary-the-2015-shortlist/   no trabalho de Jenny Espírito Santo, uma angolana a residir em Londres e filha de um amigo e conterrâneo de Tômbua. A Jenny, é bisneta da Vovó Mariana que tem aqui um poema que lhe é dedicado e que pode, se quiser, ler aqui: http://poesiangolana.blogspot.co.uk/2009/08/vou-participar-em-mais-uma-antologia.html


Obrigado a todos, só espero que o site esteja aberto para fora do Reino Unido. Votar é fácil na caixa que diz o seguinte: Who should win the 2015 confessions of a design geek bursary?  clique no nome do projecto (Mind the Cork) e para finalizar, clique "Vote". 


Mind The Cork cushions
Mind the Cork